Homem Humano

A ansiedade me acompanha

“Estou cansado da minha vida. Passei por vários trabalhos, todos me deixam preocupado com algumas situações. Sou professor, algo que gosto de fazer, mas sou obrigado a fazer palestras, o que me deixa muito ansioso. Não gostaria de passar a impressão de estar inseguro fazendo o que eu gosto. A mesma coisa acontece quando vou tocar piano e preciso me apresentar para pessoas, me sinto abaixo da média, bem medíocre. No relacionamento, a mesma coisa, acho que ela espera muito mais do que posso dar. Às vezes, quero me separar, mas não tenho coragem. Não sei se essa é a solução. Já percebi que não adianta trocar de trabalho ou de atividade, isso sempre me acompanha. Qual é a sua opinião sobre isso?”

Resposta:

Você tem razão ao afirmar que a solução não está em se separar ou trocar de emprego, pois você percebeu que essa condição não diz respeito a fatores externos, mas a você mesmo.

É importante que você examine o motivo desse cansaço. Minha hipótese é que esteja relacionado aos esforços necessários para lidar com situações que parecem exigir uma grande carga emocional. Já que você mesmo parece descartar a possibilidade de que o cansaço esteja relacionado a uma falta de significado em suas atividades. Pelo contrário, parece que você encontra prazer nelas, e então, esse prazer diminui por outra razão.

A vida nos coloca diante de situações desagradáveis, mesmo nas atividades que nos proporcionam mais prazer. Realmente, não há como escapar disso. Algumas pessoas lidam com isso evitando tomar qualquer ação, mas você não é uma delas. Mesmo com sua ansiedade, você se empenha em manter suas escolhas e desejos.

Entretanto, parece que a natureza exata de sua ansiedade não está clara para você. Será medo? Será um anseio? E, se for um anseio, o que é que você quer? Há um aspecto que chama a atenção, o nível significativo de preocupação com a imagem que você deseja projetar, como se tentasse controlar a percepção dos outros. Isso também está relacionado à sensação de estar constantemente abaixo da média. Você precisa ser excepcional? Alguém alguma vez esperou que você estivesse acima da média? Talvez seja importante explorar quando essa sensação surgiu em sua história. Acredito que tenha raízes em suas primeiras experiências de amor e que essa sensação continue a influenciar seus relacionamentos atuais.

Você gosta de ser professor, mas dar palestras te causa ansiedade. Você sempre sentiu que precisava “dar palestras” aos outros? Qual é a diferença entre falar como professor e dar palestras? Parecem duas funções que solicitam uma certa mestria, em que o discurso do mestre, como diria Lacan, está presente. Um discurso que tudo sabe, que não há furos ou incertezas, que não há espaço para inseguranças.

Você imagina o que as pessoas esperam de você e sente que deve sempre corresponder a essas expectativas? Isso o leva a deixar empregos e considerar separações?. Acho que deve ficar atento a essas imaginações e investigar o que elas apontam. Agora, é importante avaliar se deseja manter esse relacionamento ou se está apenas adiando a separação por receio de desapontar a outra pessoa.

Portanto, se está cogitando uma separação devido ao medo de não cumprir as expectativas da outra pessoa, é importante considerar o que espera evitar com isso. Qual tipo de medo a frustração das expectativas alheias desperta em você? E o que você acredita que poderia ser a pior consequência dessa situação?

Em última análise, minha opinião é que existe uma repetição dessas situações que está ligada a motivações inconscientes. Vale a pena investigar essa questão, pois, caso essas situações sejam resolvidas, a energia gasta com preocupações e ansiedades poderá ser direcionada para outras atividades, melhorando seu desempenho no trabalho e proporcionando uma vida mais gratificante, inclusive em seus relacionamentos.

Se você tem uma pergunta e quer que ela seja respondida, envie nesse mesmo formato por email: ribeiro.lre@gmail.com.

Leonardo Ribeiro

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